segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Poema rabiscado dentro de um ônibus

Os destinos se esbarram nos 
destroços míticos
da Estrada do Galeão.
O balançar ignóbil de bancos 
se revigora
entre janelas e pensamentos.
Dentro de um velho ônibus,
observo atentamente 
a velocidade de minhas horas. 
Há um dilúvio de vozes que não 
me aconchega.
Em cada ponto de parada,
o frescor da pressa
apenas observa
E, como um passaredo 
em luta constante,
apego-me ao choro
de criança adornada 
por curvas mal tracejadas 
em asfalto.

Daquela sombra que se molda 
pela Estrada do Galeão,
resta a silhueta de um 
ônibus velho,
rasgando a ventania
que margeia todo meu
conturbado silêncio.

                                                 (agosto 2020)


sábado, 29 de agosto de 2020

Obscuro

como se fosse deus em templo
rosas entre barris de certezas,
não me sobra alguma festa que
me farta
em algum lugar abstrato 
a ser veleiro.

como se bastasse a mim fé
consequências inviáveis
em meus olhos,
dentro de cada dia há
aquele tempo esquecido
nos cantos empoeirados
de uma luz opaca.

espero em algum absurdo 
por mar aberto,
descanso sentenciado
no contento de minha
vertiginosa sombra.

                                                  (agosto 2020)

sábado, 22 de agosto de 2020

Recado

De línguas sórdidas
as intenções estão repletas.
Não preciso ouvir seus méritos
de boa conduta
ou histórias de mal uso
grudadas em meus ouvidos.
Preciso de alguma liberdade
aflorada em conta-gotas.
É assim que me reconstruo
pelos precipícios alheios.
Sou aquele verso desencontrado
escorrendo pelas tormentas.
Sou possível alma que mente
olhos por sobrevivência.
Não quero degustar
o que o mundo me oferta.
Sentirei apenas fagulha,
uma simples fagulha,
que me fará delírio
por esquecimento.
E esse seu orgulho intacto,
rogado entre preces fúteis,
estará engasgado nesse recado,
guardado num 
pedaço de papel
amarelado
e esquecido num destino
cozido em fogo-fátuo.

(agosto 2020)


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Aleatório

Dentro da angústia de um grito,
rompe aquele delírio repleto
de esquecimento.
Apego-me a um poema qualquer
que me alenta meus olhos.
Carrego enfim aquela flor
esquálida como um afago 
esperançoso.
Não quero a quietude das praças
adornando meus sonhos.
O que desejo é aquela solidão
que insiste em acolher
meus olhos.
Cada infinito que percorro
são apenas um sopro instantâneo.
Torno-me um breve vazio.
Vejo através de horizontes
uma alvorada tímida,
que me aquece no
vestígio mais tênue
de minha aleatória
inconsistência.


(agosto 2020)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Encantar-se noite

Se reconhecer mar
dentro da imensidão
que não cabe em si.
Esperar do verso a brisa
cantada por estrelas
instantâneas 
Abraçar o mundo 
enquanto os olhos
reverberam orvalhos.
Acarinhar sentimentos
pelos lábios que se tocam
vida.
A palavra alimenta toda sua 
forma de se moldar
infinitos,
redecorados num entrelaçar
de sonhos, 
entre cantigas secretas
de anoitecer.

(agosto 2020)

domingo, 2 de agosto de 2020

Redenção

O coração,
que não cabe no peito,
pleno,
acolhe a felicidade
em tempos de redescobrir.
As mãos alinhadas celebram um
infinito instantâneo.
Os olhos cansados
de ternura e sonho
me dizem um segredo.
Pareço restaurar em mim
alguma novidade que
germina o tempo.
Sou o mar em seus olhos,
adornados em poesia,
como um cantar
daquele imenso céu
entre os segundos
de nós dois.
Há aquele abraço redentor
que afaga nosso destino
feito juventude.
Ah, esse coração
que não cabe no meu peito...

                                                                                                                                      (agosto 2020)

Escalada

algum céu azul, entre cacheados de brisa  e segundos florescidos, delira um brinde à esperança  enquanto espero, ansiosamente, a próxima vag...