sábado, 16 de março de 2024

Feijão maravilha

Era a panela assoviando feijões. 
Caldo, grãos, aroma
fome.
Olhares assustados apreciam
a fumaça densa da panela.
Outros apenas imaginam.
Era aquela mesma panela,
de pensamentos agridoces,
unindo tempos e tempo
feito destino.
O feijão é servido
em pratos sórdidos.
Há algum vazio
estreitando as ruas.

Enquanto isso,
os olhos preenchem 
pontadas silenciosas
de minha boca faminta 


                                                               (março 2024)


Andarilhos

Feliz é aquele tragando vida
num gole de cachaça.
O mundo torna-se breve,
vadio,
insano.
Perfeito para conversas sem sentido
para o jantar.
A vida engole seco
a cachaça.
O jantar cospe a conversa
sem cerimônia.
A brevidade esmorece o sentido 

Feliz é aquele colhendo o resto
que lhe cabe solidão.
                                                         (marco 2024)



quinta-feira, 7 de março de 2024

Oito de março

A potência de uma mulher 
rompe o frescor da manhã.
Carrega jasmim em seu colo
como se pudesse acolher
os céus.

O verso de seu mundo
será vasto,
enquanto viver a poesia
que apenas lhe basta
ser mulher.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Bissexto

Fevereiro insiste a chegar ao fim.
Há um sol quente esperando por mim
no verso da praça.
Eu,
na imensidão do cansaço.
vejo as vidas mergulhadas
numa esquina vazia.
Calado,
me ponho a degustar cada gesto
que sequer tenha percebido.

Fevereiro insiste a chegar ao fim 
Daqui a quatro anos,
o destino estará teimoso,
indizível,
dentro daquele sol quente
que sorrateiramente desdenha
as manhãs que sou 
apenas tempestade.

                                                   (fevereiro 2024)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Cartinha extrassimpática para os amigos

Todas as mágoas, 
angústias,
parassintaxes e afins,
guardei na cabeceira da cama.
Talvez eu seja meio estranho
-  assim dizem os intactos!
Ah, que venham os pássaros
me lembrar das amizades...
Aquelas guardadas em alvenaria,
ávidas por um abraço incolor
e mudo.
Sopro de saudosismo que vem e vai
nas manhãs pelas quais
ninguém se importa.
Findam-se os anos,
as pontadas de lua,
os delírios em fim do dia.
Eu aprendi a solidão
com os olhos de veraneio, 
arquivando amigos por
sorrateira revoada.

Apenas brindo a fagulha que
reverbera o sussurro de um
inquieto silêncio.

                                                          (fevereiro 2024)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Restos

eu tenho sonhos que não cabem numa
sala de estar
carrego muitas brisas regadas com
passas ao rum.
não vejo nada além de meu rosto envelhecido
entre porções de estrelas.
o mar anuncia um impetuoso destino.
esquinas rastejam o silêncio
que lhes restam.

eu tenho sobras do jantar
corroendo a velha eternidade.

                                                           (fevereiro 2024)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Reflexo

Eu não sou santo 
nem reza.
Muito menos tenho cacife
para destino.
Amargo meus dias com
restos daquela manhã.
É o que mais preciso.
Versei canções tristes para
chorar,
mas não nasci
em tempo de orquídeas.
Os ventos são hostis,
entrelaçados entre
segredos.

Quero enfim
uma novidade 
que me abrigue
enquanto aflorar
alguma esperança.

                                                             ( janeiro 2024)





Feijão maravilha

Era a panela assoviando feijões.  Caldo, grãos, aroma fome. Olhares assustados apreciam a fumaça densa da panela. Outros apenas imaginam. Er...