domingo, 27 de novembro de 2022

Poema cínico

Talvez eu grite um silêncio escondido.
Ou minta aquela verdade guardada
feito pólvora.
Certeza faço de conselhos encaixotados
entre arbustos.
Trago enfim teu prenúncio de ser infame
ao menos uma vez.
E apeteço um sorriso enfadonho de 
dentro de meu semblante cretino.

Uma praça ao lado demora a me te
chegar no horário. 
Confuso vejo a lembrança largada
a passos lentos.
Teu rosto carrega mais uma tarde
que se faz oportuna.
Sou manipulado a barro.
Contido em vertigem.
Dissoluto por acaso.

Caibo perfeitamente em meu cinismo crônico,
enquanto convido um destino indesejado para
jantar.

                                                    (novembro 2022)


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Versos para Darinha

Quando a saudade germina
alguma estrela,
conto os dias feito perfume.
Aquele sorriso,
tanto e vasto sorriso,
é laranjeira alvorecendo
minhas mãos,
meu tempo.
Jardim de mim avivado
por destino adornado
em ventania. 
De teu abraço encontro
a vertigem mais linda
vista de perto.
Do amor decanto um olhar 
mítico e gentil,
que me acalanta pelos 
momentos revigorados
em amanhecer 
e coração.

                                                  (novembro 2022)

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Motivação inversa

Invento brisas por meus
sonhos de rapina.
Gravo cada palavra como
solidão incurável.
Caminho a métrica que me
ruge pássaro.
O amanhã não renasce.
O mundo não convence.
Apenas minhas mãos 
dormentes sorriem.

Quero o retrato intranquilo
das coisas infames.
O destino carrego entre
pequenas bandejas-véu.
Nossa certeza inquieta
tudo aquilo que nos ronda.
Enquanto isso,
morreremos cada minuto
de infinitos,
ainda restando pétala.

                                                        (novembro 2022)

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Entressafra

Eu sobrevivo um mundo.
Pressinto o som do mar.
Cada céu rabisca a rua que passo.
Extravaso o caos. 
Sei que entre rostos emudecidos
há segredos irrefutáveis.
E, mergulhado em minha própria
insegurança,
assovio uma canção inútil.
Vejo-me risível 
em ladeiras frias.
Encontro-me recluso
em destinos pobres.
Cabe a mim redesenhar um dia
delicadamente medonho,
rascunhando um poema morno
que irradia alguma
manhã entediada.

                                                        (novembro 2022)

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Ponteiro

Tento barganhar alguns minutos de ócio.
A água ferve em brasa infame.
A roupa suja está posta há séculos. 
Eu penso no dia seguinte enquanto
uma coceira me grita alto.
Algum café agridoce me faria bem,
mas tenho uma angústia para cuidar.
O tempo passa no trilho de um azul 
Azul que se reconta numa camisa minha
qualquer.
Azul onde reviro o fogo da fervura 
dentro do próprio desdém.
Amargos vão os dias em que serei
um delírio estranho.

O ventilador em meu rosto hesita
pelo tempo adentro.
E cada destino que brinca com estrelas
recolhe meu sono atrasado
como prêmio de consolação.


                                                       (novembro 2022)

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Cântico de boas novas

Faço um pequeno verso esquecido
germinar algum sol como 
a grande nova.
Aquela nova que trás a esperança
quentinha, 
diretamente dos corações.
Aquela nova que sussurra alguma
flor e liberdade.
Aquela boa nova que nos convida
às canções de ventania.

Espere o amanhecer avistando
o horizonte.
E seja resistência que reconta
cada pedacinho de rua.
Pois aquela nova alvorece estrelas,
enquanto brindaremos, 
envaidecidos,
o despertar incondicional
de um tempo a renascer.


                                                      (novembro 2022)

Escalada

algum céu azul, entre cacheados de brisa  e segundos florescidos, delira um brinde à esperança  enquanto espero, ansiosamente, a próxima vag...