quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Conversa com o tempo

Éramos tensos,
feitos sombras remoendo angústias.
As horas se curvam por tempestades
e nós,
embevecidos em êxtase,
não entendíamos o bailar 
do óbvio. 
Queria ser o vento,
acarinhar um sol peculiar
que me grisalha a chamas.
Talvez seria um breve sonho 
que nos coubessem em sintonia.
Somos então extremidade de 
um mundo enfermo,
irredutível.
E você,
gradiente tempo,
apenas me sopra como
folhas ao resto,
esperando o dia em que 
me tornarei apenas grão,
ou ainda,
quem sabe,
uma fagulha de pensamento, 
vagando livre
pelas cirandas entre  
receosos infinitos.

                                                  (janeiro 2022)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Monografia

Amanheço todos os dias
num piscar de olhos.
(a vida deveria ser mais
afável.)
O delírio está numa caixinha
de surpresas,
abraçando-se ao som do destino.
Revoluções barulham
num coração imenso:
acolhe mundo inteiro
adentro feito eterno.

Renasce uma esperança
em sessão noturna de cinema.
Experimento arte como um gole
vivo de cachaça.
O verso emoldurado no ventre
pulsa em mãos aflitas.
Escrevo o que me convém mar,
liberdade, 
voz,
dentro da madrugada ardilosa 
em que produzo estrelas.


                                                 (janeiro 2022)

sábado, 1 de janeiro de 2022

Esfinge de vidro

Esfinge de vidro 
protege meu templo
de verso e de vento
a rosa comigo.

Esfinge de vidro
decifre teu plano,
de sopro humano,
renasce o sentido.

Esfinge de vidro
em noite velada,
por lenço e espada,
o anseio temido.

Esfinge de vidro
tão frágil se veste,
devora tua peste
a teu inimigo.
                                           (janeiro 2022)




Primeiro poema do ano

As ruas bêbadas gargarejam festas.
Esquinas celebram aquela ressaca
que ainda não se conteve.
Um ruído preguiçoso refaz 
um silêncio tímido.
A vida passa.
O mundo passa.
Um passado aquieta o que 
me fez absurdo.

A noite se refaz para a 
programação normal.
Sentimentos confundem-se
na vastidão do medo.
Os primeiros versos do ano 
se perdem em segredos,
perdidos entre céus robustos,
por ilusões forjadas a pedra.

                                                  (janeiro 2022)

Escalada

algum céu azul, entre cacheados de brisa  e segundos florescidos, delira um brinde à esperança  enquanto espero, ansiosamente, a próxima vag...