segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Boas festas

Entre um prato e outro,
uma lembrança. 
Diante de um gole de vinho,
a conversa vai e volta
feito gangorra.
E a vida segue 
a toque de caixa.
Mãos apressadas,
vozes brisadas,
aquela estrela mais brilhosa
resvala entre corrimãos.
Surge uma lua imensa
escorrendo em sua 
vaidade aprisionada.
Daí dilaceram as ruas vazias
onde olhos maculados
se vêem jardineiros. 

Acabam-se as festas.
Restos se acalantam.
E aquela esperança de 
ceiar um pouco mais,
acaba na esquina fria
de uma realidade irreversivelmente
mesquinha.

                                                         (dezembro 2022)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Poema do sétimo ano

Nossa ciranda é ao som do batidão.
Cheia de infâncias,
adolescências,
todas curiosas.
Temos que estudar para as provas:
português, matemática, ciências,
geografia, história...
Mas queremos mesmo divertir a 
educação física.
Inteiros não são os números e sim
o coração.
Coração substantivo simples
que nos aquece quando
estamos de férias.
E aí,
a saudade bate mesmo quando
não tem jeito do abraço.
Passaremos de ano?
Seremos bons meninos,
boas meninas
na próxima jornada?
O que sabemos é o florescer da vida
a cada sopro de mundo,
na relva do sétimo ano,
enquanto esperamos o futuro
ao som festeiro
daquele batidão.
                                                         (dezembro 2022)




sábado, 3 de dezembro de 2022

Memória afetiva

Perdi todos meus amores antigos 
num aspirador de pó.
Lembro-me de ingratidões que 
beijavam meu rosto. 
As ruas não cabem mais dentro 
dos olhos.
Agora, elas se confortam mais 
numa tela breve de celular.
A praça,
a pedreira,
o campo de terra batida,
os conselhos de vó,
ou até mesmo aquela escolinha
pré-fabricada em janelões avulsos
ficaram esquecidos no escombro
de décadas perdidas.
Existe um sorrateiro pesadelo 
exaurindo lembrança,
tanta lembrança que carece
de saudades.
Minha memória corrói a noite.
Uma angústia rabisca o espelho
dentro de meu assombro
que se convém eterno.


                                                         (dezembro 2022)

Escalada

algum céu azul, entre cacheados de brisa  e segundos florescidos, delira um brinde à esperança  enquanto espero, ansiosamente, a próxima vag...