sexta-feira, 5 de junho de 2020

Cadáver

Um ser inerte lambe o asfalto cru.
A carne apodrecida convida passantes
ao espetáculo cinzento.
Insensatos vermes deliciam-se no aroma
grotesco das sombras.
Aquele bicho inusitado,
feito de náuseas
e silhuetas fúnebres,
se aquece nos horizontes cantados entre
aconchegos e enxofre.
O mundo parece ignorá-lo.
Pacientemente,
tal morto contempla sua nova casa
com pensamentos precisos,
talvez inválidos,
interrompidos por uma canção de sirenes
que anunciam a sua hora:
há de chegar então
a tumba frígida e pesada
de seu próprio esquecimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Balada de Narciso

Do espelho mundo meu  redemoinho a sós. É mais belo ainda face a face adentro. Estranho tudo de fora em que aguarda a seco. Pouco seria narc...